sábado, 6 de junho de 2020

PENSAMENTO E PRÁXIS NO MOVIMENTO DE COMPREENSÃO DO MUNDO: CONTRA CISÕES, por Eduardo Braga



PENSAMENTO E PRÁXIS NO MOVIMENTO DE COMPREENSÃO DO MUNDO: CONTRA CISÕES
 por Eduardo Braga

Para além do científico, o pensamento da totalidade possui uma potência revolucionária. É na prática do espaço-tempo vivido que se encontram os fundamentos da reprodução da sociedade, sendo estes produzidos por determinações históricas, econômicas, políticas e culturais - porém a superação dessas determinações descortina suas atualizações e acentuações. Reconhecer estes fundamentos é apenas um passo inicial, ainda que talvez, o mais importante.

Na tentativa de superar os reducionismos das ciências parcelares, o ato de pensar total não se resume, como já muito dito em extensa literatura, à ação de somar as partes para formar um todo, construindo uma extremamente sedutora armadilha lógica. Num percurso oposto, é a totalidade a explicadora das partes.

Partindo dessa premissa, invalidam-se as cisões próprias ao pensamento lógico: O descolamento da dimensão do econômico à dimensão do político; da dimensão dos serviços públicos e dos acessos a eles - acentuados com a crise pandêmica atual - à estrutura classista da sociedade brasileira; da dimensão dos desportos populares e suas formas de organização à sua contraditória redução em espetáculo; da dimensão (mundial) do urbano nas metrópoles ao plano (do lugar) do cotidiano...

Não se trata, também, de um recuo histórico que nos leva a um historicismo vazio, que não responda às problemáticas atuais. Dispõe-se a favor de uma regressão histórica, se, e somente se, o fato histórico constitui o anúncio das determinações atuais; se a historicidade se desapegue de uma leitura apenas do passado, e busque responder questões do presente. Ou como Henri Lefebvre tece em n’O Fim da História, inspirado na obra marxiana, é o adulto que permite compreender a criança, assim como o homem permite a compreensão do macaco. Posto isso, elaboremos então, pensamentos diacrônicos como o tempo da vida - referenciados por determinações e não por cronologias.

Outra cisão já muito reconhecida pela pedagogia crítica é a separação conhecimento escolar x conhecimento acadêmico. O paradigma de uma “pedagogização” dos conceitos científicos habita uma discussão acerca da linguagem e dos limites entre o ensino da academia e de como este conhecimento é passado na relação ensino-aprendizagem. Nesses termos, problematizar a “transposição didática” nos leva a uma conclusão por fora dos caminhos apresentados nessa cisão: o problema se apresenta não como uma cisão universidade-escola, mas como uma cisão teórico-prático - e o elemento que funda essa cisão é a negligência do plano do cotidiano na apreensão de conceitos universais, anulando qualquer travessia que vai do mundial ao local, também do teórico ao prático.

O descolamento, consequentemente, jamais pode ser na ordem teórico-prática (formando, portanto, um falso par teórico e prático). A preservação dessa inerência é a própria sobrevivência do pensamento crítico. Um pensamento que deve ser feito, como nos diz Francisco de Oliveira, com radicalidade e com especificidade.

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