terça-feira, 31 de março de 2020

Dialética do confinamento, por Victor Leandro

Coluna Segunda Via - Especial Quarentena


Dialética do confinamento
por Victor Leandro

É certo que a quarentena imposta pelos governadores estaduais, contrariando o antigoverno nacional, já começa a render bons efeitos. No mínimo, ela tem traçado um esboço de salvaguarda do tempo necessário para a organização do trabalho de recepção de doentes graves nos hospitais, o que garante alguma qualidade no atendimento e aumenta a probabilidade de reversão dos quadros graves, ampliando assim as chances de cura.

No entanto, tal não significa que as coisas rumem para um caminho tranquilo. Já é patente que não existem exames em quantidade suficiente, e a possibilidade de estarmos vendo somente uma parte limitadíssima do problema se afirma a nós com cada dia maior clareza. A despeito disso, a classe política, e até mesmo parte da científica, já começa a celebrar vitória antes do tempo.

É aí que está a contradição do confinamento, a qual se soma aos dados mal aferidos. Quanto mais este surte efeitos na contenção da pandemia, menos alerta nos sentimos, e mais aptos acreditamos estar para voltarmos às ruas, o que pode torna-lo um esforço inglório. Por outro lado, se dizemos que a quarentena não surte o efeito pretendido, o resultado é ainda mais desastroso, pois gera a noção de que estamos fazendo um sacrifício inútil, levando-nos a recusá-lo de pronto. É nessa via que apostam o suposto presidente e seus cúmplices.
Contra todos esses efeitos, a única alternativa que cabe é manter-nos firmes nos princípios já estabelecidos, e nada retroagir até que tenhamos dados confiáveis e mais fidedignos. A suspeita, tão cara à filosofia, é nosso maior remédio nesse momento. Finquemo-nos nela, e sairemos bem disso daqui a alguns meses. O nosso melhor movimento agora é a espera.

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