A valsa do caos
Não, a banda não toca música nenhuma. Apenas vozes grotescas a espalhar gritos infames. Os corpos caídos fazem a percussão. Mulheres, negros, Lgbts, indígenas. Meras coisas, apenas. Do lado de fora, os pobres se amontoam, movimentando-se ao ritmo lúgubre de sua miséria esquecida. Poderiam figurar linhas de fuga, porém não existem mais escolas para ensinar isso. Nem remédios. Nem vida. Só os automóveis a lhes transpassar indiferentes.
Já ao centro, o Bufão ri histericamente. Contudo, não há alegria. Somente vômito e demência. Os jornais escondem-se de medo, açoitados pela neutralidade cínica dos empregadores. Na TV, as mentiras ganham um ar cada vez mais malcheiroso. Todo o espaço é uma latrina louca de onde os ratos fogem para Miami.
Mas, mesmo diante do profundo caos, dançamos calados. Até quando as luzes se apagam, serenos e imóveis ficamos. E por que afinal deveríamos lutar contra isso? Mais vale esperar pelos sonhos de democracia. Não há mal que sobreviva à hora do sono.
Victor Leandro
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