Conto
*Ele suspira. Um alívio. A causa do alívio foi o ônibus pego
a tempo? Não sei. Sua expressão é triste. Um homem triste. Não sabe para onde
ir? Será, assim, um homem igual a mim? Acho que quer chorar. Outro suspiro.
Ultimamente este bairro está perigoso de mais. Talvez tenha sido roubado, por
isso o suspiro. Por isso, a tristeza. Tem olhos de quem quer chorar. Se ele
começar a chorar, eu choro também. E aquela moça? Ela também parece triste, mas
não suspira. E aquele rapaz forte? O melhor que esse bairro pobre pode parir.
Mas ele chora. E todos olham para ele. Choro compulsivo. Aquele choro que
aperta o peito e renova a alma. Todos o olham; o homem do suspiro, a moça, eu,
o cobrador. Ih, e agora? Todos choram. Assim como o riso, o choro é
contagiante. Uma corrente elétrica em motores tristes só pode resultar nisso.
Choro coletivo. E lá vai o ônibus. Só não chora porque é maquina, mas nem
precisa, pois a cidade chora por ele. A cidade cinza, os homens morenos, as
mulheres castanhas, os meninos bêbados; todos choram.
OPA!
Alguém rir!
Alguém rir!
As flores
estão florindo?
O céu está
ficando azul?
O rapaz
chorão ensaia risos tímidos?
UAU!...
Mas espera!
Mataram o
engraçadinho. Tragam, por favor, o pano do pranto.
Bruno Oliveira
*Conto publicado no segundo volume da revista Bodozine, lançado no dia 05 de dezembro de 2017, no auditório anexo da Escola Normal Superior (UEA), em Manaus. Na ocasião, o escritor Milton Hatoum, que prestigiava o evento, fez o seguinte comentário a respeito da revista: "Nem tudo é poesia".
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