segunda-feira, 2 de março de 2020

Nada a impressionar, por Victor Leandro

Coluna Segunda Via





Nada a impressionar
por Victor Leandro

Há alguém realmente surpreendido com as performances grotescas de Bolsonaro? Certo, elas ainda não tinham sido vistas por parte de um presidente da república. No entanto, considerando o cenário personalista do presente desgoverno, tudo o que ocorre já estava mais do que no horizonte possível. É a confirmação do óbvio.

Disso decorre que são inapropriados os termos comumente usados e que se referem à reação imediata aos seus desfeitos. “Estarrecido”, “indignado”, “estupefato”, “enojado” e afins são vocábulos que pouco acrescentam ao debate em curso, e nada mais fazem do que despontarem como um elogio exagerado e imerecido àquele que, junto com sua trupe, não realiza nada além do que uma celebração monótona de sua cultura de aberração.

Desse modo, quando utilizamos tais expedientes reativos, imergimos nas sendas perigosas que permitem ascender o opositor a nossa altura, isto é, pô-lo na condição de alguém capaz de nos  infligir as mais terríveis sensações ou, para permanecer na ordem dos afamados discursos políticos, fazer despertarem em nós os instintos mais primitivos.

Se há algo estarrecedor no momento em que estamos, este não se encontra em seus agentes, e sim nos atos politicamente efetivos. Ou nos concentramos neles, ou teremos de nos afetar verdadeiramente com o massacre de pobres, mulheres, negros, lgbts e indígenas. No mais, é preciso deixar os estultos falarem sozinhos. É só na ignorância que suas palavras podem e devem encontrar espectadores comprometidos.

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