sexta-feira, 20 de março de 2020

Bolsonaradas cotidianas, por Victor Leandro

Coluna Segunda Via - Especial Quarentena




Bolsonaradas cotidianas
por Victor Leandro

Não, não é somente no voto ou na filiação ideológica que a visão bolsonaro de mundo se enuncia.

Na verdade, ela se encontra em um plano mais profundo, no limite de nossas organizações estruturais, que fazem com que tenhamos condutas similares ou que seguem os mesmos ímpetos. Como hipótese causal, poderíamos dizer que elas aparecem principalmente quando:

1- Estabelecemos nossos afetos instintivos como princípios de ações coletivas;

2-Nossos desejos determinam a forma de nossa interpretação de mundo.

Como resultado, o que produzimos é uma explosão de individualismo e conflito, evidenciados em uma praxis destruidora, que vai desde o mais terrificante ao mínimo gesto - patrões que não dispensam empregados na pandemia, sujeitos esvaziando prateleiras de álcool em gel, indivíduos que passeiam nas ruas sem se preocupar com os outros, ativistas deixando ações coletivas porque não foram realizadas a seu gosto, pessoas que agridem por simplesmente terem sido chamadas à sensatez, e por aí vai.

Claro, raramente percebemos isso em nós. Como bem disse Descartes, todos acreditamos estar providos suficientemente de bom senso. Mais fácil concentrar essas características numa figura como o suposto presidente, quando na verdade ele é apenas um caso exemplar.

O remédio, como sempre, é a autocrítica, que pode ser configurada numa pergunta. Será que é objetivamente razoável agir como estou pensando? Trata-se de uma solução simples.

Difícil, mesmo, é colocá-la em execução.

Mas tentemos.

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