segunda-feira, 9 de março de 2020

O falso criticismo e a antirromantização, por Victor Leandro

Coluna Segunda Via



O falso criticismo e a antirromantização
por Victor Leandro

A fruição de uma obra artística é sempre um acordo celebrado entre o artista e seu público. Nele, o autor se compromete a tornar sensível uma experiência de mundo, enquanto os que se aventuram nela devem concordar com os termos dessa imersão. Sem isso, não é possível que a arte encontre um lugar próprio, um atmosfera particular que remeta aos termos intrínsecos do seu modo operativo, o qual se relaciona agudamente, porém não se identifica de maneira completa com o real.

Daí que não se deve exigir que a obra necessariamente remeta a todos os caracteres presentes no mundo. O que se deve cobrar, ou seja, o que precisa estar presente nela, é algo que revele ao menos uma face antes escondida da condição humana, a qual, por meio da sensibilidade, mostra-se com toda sua força. Fora disso, a arte estará confundida com a filosofia ou a ciência, que visam explicitar a matéria por outros meios.

Nos ambientes pseudocríticos, tem se repetido até o clichê o uso do termo romantização, a fim de designar produções que não estejam afinadas com elementos presentes na realidade, apresentando-os de maneira parcial e unívoca. Ora, para começar, o que esses censores se esquecem é de que o próprio romantismo já revela algo do humano, não podendo ser descartado de nenhuma maneira. Pior do que isso, é observar não somente a ausência de critério, mas também de correspondência no uso dessa categoria. Na maioria dos casos, o que se chama de romantismo não é mais do que estetização, ou seja, o emprego de alguma qualidade, normalmente com fins engrandecedores, porém de qualquer forma intrínseca ao fazer artístico. Assim, o que se considera como sendo a última palavra em esclarecimento e jugo acaba por ser um termo vazio, que não diz absolutamente nada para a obra em estudo.

Mais perigoso que um mau crítico, é um falso crítico. No primeiro há apenas erro. Já com o segundo, tudo que poderia ser grande torna-se pequeno, reduzido ao nível da desfaçatez do julgador. Para escapar dessa armadilha, é necessário que abandonemos de vez os termos da moda, e passemos a perseguir as autênticas incursões dos trabalhos artísticos, de forma dedicada e paciente. Somente dessa maneira, a arte terá algo a nos dizer, e os farsantes voltarão a falar sozinhos novamente.

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